CHEIO. Igor Correa. Rio de Janeiro, RJ. 2020. 3’54”
Bailarino clássico contido em isolamento social, desperta para o desejo de expressar sua arte. Confinado em uma cabana nas montanhas, ao som de Nocturne de Chopin, angustiado pelas impedições impostas socialmente, tem o ímpeto reverso do violista que também almeja criar. Entre notas musicais e a dança, ambos transbordam suas necessidades assombradas noite pós noite sem ao palco pisar.
SAGUARO. Grupo Contemporâneo de Dança Livre. Belo Horizonte, MG. 2020. 4’11”
“Saguaro” é um vídeo realizado durante o período de isolamento social devido à epidemia de Covid-19 no mundo pelas artistas Duna Dias e Socorro Dias, com base nas sensações e experiências vividas entre mãe e filha durante esse período de quarentena. O saguaro é um cacto e representa força e resistência durante este isolamento e perante tantas incertezas. Juntas as duas transformam suas perguntas na residência artística “Apartamento 15”. Este é um vídeo desenvolvido na residência e surge das seguintes perguntas: O que é possível em uma reunião entre duas artistas femininas durante uma quarentena? E se essas duas mulheres forem mãe e filha? O que o isolamento pode revelar como uma potência nesse encontro, baseado no carinho, na convivência, nas lembranças e na incerteza do futuro? As artistas procuram mergulhar nessas questões através da relação entre corpo e câmera, os atravessamentos de corpos que se fundem ao espaço de confinamento, a porosidade de suas memórias e o encontro com a passividade e com o cotidiano.
A CATÁSTASE DE KUROKO Sandra Lapage. São Paulo, SP. 2020. 3’59”
A catástase de Kuroko, é o epílogo da Metamórfose de Kuroko em 4 atos, que eu gosto de apelidar também, em homenagem às obras que me inspiraram, de: Uma rua de crocodilos, Ubu de J a K, Ladislas e o gafanhoto, double suicide em estilo bunraku e outras estórias é uma foto-performance em stop motion. A sala do Vão Espaço Independente de Arte é um convite à experimentação em convivência com o som e ritmo da rua. Então decidi usar a sala experimentalmente como um palco de teatro. “The studio becomes a safe space for stupidity, for not knowing what you are doing” (William Kentridge). E então resolvi exercitar a estupidez à qual Kentridge se refere: usar meus próprios trabalhos antigos, como cenário para animar minhas esculturas maleáveis e vestíveis? Eu fotografei, com a ajuda da fotógrafa Ana Pigosso, os movimentos de ativação das esculturas vestíveis, como se eu fosse o Kuroko do teatro japonês: como um mestre de marionetes, animo as peças ao fazê-las dançar. À medida que a peça avança, o Kuroko começa a vestir a máscara, o que o transforma em personagem central da história, abraçando cada vez mais o poder xamânico de vestir as esculturas e máscaras. O xamã é outro ou é o verdadeiro eu? A máscara esconde ou revela a verdade? Nesta catástase, Kuroko abraça sua própria loucura criativa, seus terrores noturnos, uma obsessão com olhos, visão, ver e mover-se na cegueira.
SCLIAR VAI AO POMAR. Camila Vermelho, Carlos Rangel. Santa Maria, RS. 2020. 1’38”
A série de três videoperformances com animação digital intitulada “Scliar vai ao Pomar” é uma criação feita em celebração aos 100 anos do nascimento do artista visual santa-mariense Carlos Scliar. Nascido em 1920, Scliar raramente produzia fora do estúdio e notabilizou-se, em sua fase madura, com obras de natureza-morta, mesclando objetos cotidianos com frutas e flores e utilizando-se de uma estética visivelmente influenciada pelo Modernismo Cubista. Em “Scliar vai ao Pomar”, contudo, há uma provocação. Apesar dos tempos de quarentena e de pandemia de coronavírus, de isolamento social, pretende-se, aqui, reconectar @s artistas e @s espectadores por meio do audiovisual. Tirando, assim, as pessoas do conforto e da segurança do estúdio e de casa para levá-l@s até a “natureza-viva”, através das imagens em movimento, do som e da animação digital. E, assim, ao mesmo tempo e resgatando Carlos Scliar, apropriar-se de uma visão modernista do mundo da natureza com o uso de animação digital, desdobrando uma transfiguração desse mundo em formas lineares e geométricas, bem próprias a modernistas brasileir@s do início do século passado, a exemplo de Ismael Nery, Milton da Costa ou Lasar Segall. Já a trilha sonora de máquinas, que transformam a natureza em utensílios, denuncia o homo-faber e sua fé no progresso tecnológico e na ciência, ao tempo que remete para o processo em que a mão-ferramenta, como extensão e também a conexão íntima do ser humano com seu entorno natural, foi sendo substituída pelas ferramentas e, depois, mais profundamente, pelas máquinas. Nesse processo, a humanidade perdeu a sua centralidade, transferiu sua potência de sujeito para os mecanismos e tornou-se alienada não apenas do mundo natural, mas também de si mesma. Porém, com o advento da revolução digital e da Arte e Tecnologia, as pessoas e os dispositivos tecnológicos tornaram-se intercambiáveis e coexistentes, permitindo um nível de abstração do real ainda mais profundo que aquela abstração proposta por algumas tendências do Modernismo. Já não se trata de produzir simulacros geométricos do real para desconfigurar sua natureza objetiva, mas fundir a mão e o fruto, o braço e a árvore em uma mesma unidade estética, na qual a presença humana se retira e deixa o objeto falar por si mesmo sem o transformar mecanicamente. E, somando-se a tais processos, a performance faz-se presente, com corpo, presença, situação, rastro.
DEBATE. Marília Scarabello. Jundiaí, SP. 2019. 30”
O trabalho se apropria do último debate presidencial ocorrido no 1º turno das eleições de 2018 transmitido pela tv aberta. O título faz referência ao debate político e também à ideia de debater-se. Nesta ocasião, uma câmera digital foi posicionada em frente à tv para filmar a transmissão, recortada no quadro da intérprete de libras posicionada de maneira fixa no canto esquerdo do vídeo. A filmagem foi editada para perder qualidade e compreensão: áudios foram suprimidos e todo o vídeo foi desacelerado a 5%. O que vemos é um corpo feminino apresentado em 3 momentos agitando-se com dificuldade e em silêncio. A intérprete de libras torna-se a regente de uma orquestra do nosso vazio, personificando uma sensação de impotência, em um tempo expandido.
CURA SENHOR ONDE DÓI. Daniel Bretas. Belo Horizonte, MG. 2020. 3’37”
Um novo caos a cada dia. De pouco em pouco, venceremos. Uma nova dor a cada dia. De pouco em pouco, sobreviveremos. O ano de 2020 tem apresentado caminhos árduos e taciturnos. Se cuidar é cuidar também uns dos outros. Se cuidar não tem sido fácil. “Cura senhor onde dói” é uma videoarte feita completamente só; sob rigor do isolamento social. Uma produção caseira feita quaisquer recursos com efeitos criados através de um chat virtual com um bot. Todas distorções visuais são produzidas por demanda à uma Inteligência Artifcial via comunicação textual pelo aplicativo Telegram.
RESPIRA SE INSPIRA. Louize Bueno. Porto Alegre, RS. 2020. 30”
Nos encontramos em um momento de caos, de angústia e de falta de ar. O oxigênio é ouro e engrenagem para vida, assim como a arte para o artista. Uma vídeo performance da angústia da quarentena, da falta de inspiração e da incerteza de como será o nosso amanhã quanto artista-cidadão.
ENTRENÓS – OBRA DA SÉRIE ENTRECORPOS. Antmtbl (Coletivo Antimetábole). Belo Horizonte, MG. 2019. 5’
“A série Entrecorpos é um conjunto de vídeos e fotografias artísticas sobre a relação entre o corpo e o espaço. A motivação vem de uma extensa pesquisa nos campos de Arquitetura, Artes Visuais e Dança. O objetivo é provocar a reflexão de como os corpos são afetados social, física e emocionalmente pelo espaço e como este é capaz de transfigurar-se pela forma como os corpos o ocupam. Enfoca-se o corpo artístico, em especial o dançante, como agenciador da transformação espacial pela sua sensibilidade. As obras registram performances dos corpos interagindo com o espaço e entre si. Mais do que isso, as edições em cima de cada obra modificam suas possibilidades de interpretação pelo corpo terceiro, que a observa. O momento da percepção, em que o que foi percebido não é mais exterior, mas ainda não é forma incorporada de conhecimento é o que chamamos de “”entre””. Inspirado em uma abordagem fenomenológica de Merleau-Ponty (1999), este momento é o encontro que causa o conflito entre corpos ou o que os conecta e proporciona a transformação das relações até então existentes. O propósito último é devolver ao corpo sua percepção sensível e sua identificação com o espaço. Cada corpo é um e por isso as percepções, apropriações e produções do espaço são diferentes. Contra a espetacularização da imagem e a produção de espaços distanciada do corpo no mundo neoliberal, trazemos a potência da Arte como ferramenta criativa e política de fazer sensibilizar o olhar e sentir o corpo presente. O corpo deixa de ser apenas espectador. O corpo vira obra.”
CORPO NA QUARENTENA. Cia Casa4. Rio de Janeiro, RJ. 2020. 1’48”
A cia Casa 4, produziu um conteúdo performático respeitando as regras de isolamento social e abordando a temática do Corpo na Quarentena. No vídeo os atores e atrizes relatam como cada corpo vem reagindo a quarentena. O relato é acompanhado de partituras corporais gravadas através de celulares e tem como cenário, as residências dos artistas.
MÁSCARAS POSSÍVEIS. Jono Lena. Salvador, BA. 2020. 2’04”
Você se alimenta de quê? Nessa terra de tudo se dá (e muito se tira). Mas atenção, à essa terra tudo retornará: a morte e a fome; a vida e o pesar; a máscara e o vírus; a arte e o pensar. No grande cú do mundo, tudo, tudo vai virar bosta.