PROJÉTIL. Marx Brag. Rio de Janeiro, RJ. 2020. 2’46”

A esperança depositada na melhoria da educação é um dos poucos amálgamas a unir o fragmentado imaginário político brasileiro. Já seu contraprojeto parece na prática se reatualizar a cada rodada autoritária do Brasil contemporâneo. Seja no descaso em termos de investimentos públicos ou na tentativa de censuras diversas, os retrocessos educacionais que se seguiram às intervenções antidemocráticas de 1964 e 2016 acabaram por terminar de rasgar outras páginas constitucionais. Tornada feixe histórico concreto e comum ao regime militar e ao atual governo, a chamada “crise educacional” ganha em “Projétil” um caráter perverso, posto que intencional.

 

QUEIMEM OS PAPÉIS. Violet Baudelaire. Rio Grande, RS. 2019-2020. 5’

De todas as performances que já fiz, esta é de perto a que mais se aproxima da etimologia da palavra. Performance é formada pelas palavras “per” e “formáre”, ambas de origem no latim. Per significa mudança, intensidade, movimento; e formáre traz a ideia de “forma”, logo, performance pode ser compreendida como uma forma que muda o tempo todo, ou que não tem forma definida, o que a torna um paradoxo, mas que ao mesmo nos faz refletir sobre como as coisas são fluídas e constantes. Ao pensar a arte, performance faz com que ela seja da mesma forma. Uma obra de arte não se repete de modo idêntico, ela se reproduz sempre criando uma nova coisa, uma cópia da cópia, nunca fiel, sempre fluída. A vídeo performance que aqui público, sob o título “Queimando Papéis”, na verdade é uma transcriação que surge a partir de outra performance intitulada “Amapôa”. Amapôa foi criada pelas artistas Agaby Assusção, Luz X e Violet Baudelaire em dezembro de 2019. Ela durou 15 min. e trazia três relatos sobre transfobia, racismo e machismo, escrito pelas próprias artistas, e depois os relatos eram queimados junto aos documentos das artistas. Esta performance trouxe reflexões a respeito da hipersexualização, do processo de tornar-se mulher, do falocentrismo, e do poder que as coisas, como frágeis papéis, tem sob nossas identidades. Infelizmente a captação de áudio ficou muito baixa, por esta razão, resolvi criar uma performance áudio-visual contendo apenas os últimos 5 minutos de “Amapoa” onde realizamos o ato de queimar documentos, identidades, nomes, memórias, passados, histórias, e falos. A performance “Amapoa” foi apresentada no início da minha defesa de TCC, no dia 17/12/2019, pelo qual obtive o título de “Bacharela em Arqueologia”. Tanto a pesquisa que desenvolvi, quanto a performance “Amapoa”, e agora a vídeo-performance “Queimando Papéis”, nos fazem pensar sobre o poder das coisas cotidianas, que consideramos banais, e de fato são frágeis, roupas e papeis rasgam com facilidade, se perdem e podem até durar pouco, mas sem eles, em nossa sociedade podemos enfrentar certos obstáculos, pois estas coisas que consideramos banais, estruturam nossas relações sociais. Porém devemos pensar e enfrentar o poder das coisas, pois se as ignoramos, elas nos oprimem, nos domesticam, nos fazem. Por isso, queima-las é um ato de resistência e libertação. No caso do papel, do documento, queima-los questiona o poder dos nomes, das identidades de gênero, das fronteiras imaginárias e do próprio Estado que utiliza destas coisas para nos encaixotar e categorias cristalizadas. angulação e fiz uma sequência de imagens fotográficas e também em vídeos mostrando a diferença entre tudo que ali vai se modificando. Cada momento é um momento único e essa transição lenta faz com que a pessoa consiga analisar e fazer uma breve reflexão sobre cada quadro.

 

MANIFESTO 1. Dhara Carrara. Piraju, SP. 2019. 1’44”

O vídeo-performance intitulado “Manifesto 1” da série “Eu existo e resisto”, apresenta a autora, nua, desenhando em seu corpo o caminho cartográfico ou corpográfico de um deslocamento realizado na cidade de Pelotas, partindo da residência até a delegacia da mulher, após, desenha um círculo constante sem quebra, aumentando sua zona a cada volta. Quando termina, o corpo se transformou em um alvo. Depois do fim do desenho, há o apagamento do vermelho desenhado, conforme a cor vai se apagando no corpo, imagens de manchetes de violência contra mulher vão aparecendo cada vez mais translúcidas, até desaparecerem, com o aúdio de partes do devido deslocamento. O vídeo é uma reflexão poética-política sobre atravessamentos pessoais como o ser mulher, gorda e lésbica e como tais refletem no viver a cidade e no aumento da violência contra a mulher.

 

TRIÂNGULO VERMELHO. Laura Theodosio. Rio Grande, RS. 2020. 9”

Em um gesto duvidoso de querer ver mais, na repetição do agachamento, surge um misterioso Triângulo Vermelho. Ao som ambiente original dando interferências sonoras e visuais.

ACUMULÔ. Coletivo Ponto. Fortaleza, CE. 2020. 2’

Olhar o futuro a partir do passado e do presente. É chegada a hora de uma nova mutação. Mas dessa vez não podemos mais acumular. O sistema foi hackeado e precisamos reaproveitar o máximo que pudermos para nos reencontrar e avançar.

 

AMARELO-ANGÚSTIA. Rodrigo Tomita. Curitiba, PR. 2019. 1’28”

Uma recente experiência de ser asiático-brasileiro

LADEIRA HABITADA. Beatriz Rodrigues. Salvador, BA. 2020. 1’34”

Vista de detalhe da ocupação de um vão no interior do arco de uma das mais antigas ladeiras de Salvador, Bahia. A Ladeira da Montanha, logo abaixo do cartão postal Elevador Lacerda, evidencia as profundas desigualdades sociais da cidade, com uma rua inteira composta por casarões em ruínas, muitos deles sendo ocupados por famílias que sobrevivem nos escombros. O paredão de pedras que sustenta a ladeira da Misericórdia mostra um arco, que em décadas anteriores foi fechado, no intuito de evitar ocupações. Mas agora um buraco no concreto faz um lar. Uma casa-muda que voltou a ser habitada.

 

OS CORRE. Omega Sparks. Rio Grande, RS. 2020. 1’54”

Poética audiovisual experimental, zine vídeo.

 

CARTA AO MEU GRANDE AMOR. Oliver Olívia. São Paulo, SP. 2020. 4’12”

Uma pessoa transmasculina discorre sobre seu relacionamento com um homem cisgênero, dentro de todos os afetos, contradições e tensões que alí existem. Uma carta de amor.

 

O VÍRUS MORTAL. Shay de los Santos Rodriguez. Rio Grande, RS. 2020. 2’13”

Em 2020 estamos vivendo uma pandemia. Mas a Covid-19 não é o único vírus que mata corpos e não tem fronteiras. // Uma analogia da pandemia sobre os corpos trans.

 

ENSAIO. Grenda Costa, Caroline Sousa Bezerra. Fortaleza, CE. 2020. 2’39”

O relacionamento à distância entre duas mulheres na mesma cidade acontece nas fabulações, desejos e sonhos de aproximação.

 

RETORNO. Neto Astério. São Cristóvão, SE. 2020. 2’22“

A falta de respostas me serve como guia. Como seguir acreditando quando o dia-a-dia parece não contribuir? Neste curta-metragem cercado por paredes isolantes, estou de volta à cidade em que nasci, revisitando traumas que a todo tempo sussurram a antiga e constante vontade de fugir.

 

MEU CORPO NÃO É MEU. Flora Susuki, Grazi Labrazca. Curitiba, PR. 2019. 3’22”

Uma mulher e outros milhões querem seus corpos de volta para retornarem ao seus caminhos. Não é seguro.

 

DESOBEDIÊNCIA CIVIL. Plataforma de Pesquisas Cunhãntã. Sorocaba, SP. 2020. 2’59”

Dois corpos. Diversos. Distantes. Isolados. Em comum: a vontade de amar e mudar as coisas.

 

SILÊNCIO. Bruna Carolli. Brasília, DF. 2020. 3’10”

Sim, nós temos muito a dizer.

 

SOBREVIDA #19. Patricia Gouvêa. Brumadinho. MG. 2019. 1’33”

Encontro do Córrego do Feijão com o Rio Paraopeba. O exato local onde toneladas de lama tóxica foram despejadas no crime protagonizado pela #valeassassina Brumadinho, Minas Gerais, 2019

 

ATELIÊ TERREIRO: HUMAITÁ COMO CAMPO DE JOGO [OU COLAPSO COMO MEMÓRIA]. Rafael Muniz. Porto Alegre, RS. 2020. 3’

Humaitá como campo de jogo [ou colapso como memória] se estrutura em dois vídeos justapostos onde duas cenas ocorrem simultaneamente. Se por um lado as peças retiradas causam estranheza sobre o movimento executado, por outro, o acúmulo de objetos produz expectativa de um gesto cuja medida desconhecemos. No entanto, os dois vídeos são exatamente idênticos, o que os difere é o fato de um estar em tempo reverso [inverso] e outro não. Ao longo do vídeo evidencia-se um tabuleiro onde as peças dispostas não se encaixam ou carecem de elementos que o completem como um jogo de xadrez. O jogo, nesse sentido, se manifesta como uma metáfora para o acúmulo e subtração [cultural], como jogo relacional entre os próprios objetos das ações e entre os vídeos. No campo de jogo as ponteiras corais, brancas e pretas fazem referência ao jogo infantil chamado pega-varetas. Já os cavalinhos de brinquedo aos cavalos do jogo de xadrez e as pequenas volutas ao barroco brasileiro; há também outros elementos incorporados, como a tampa de uma quartinha – vaso utilizado em rituais de religiões de matrizes africanas -, formas geométricas, conchas e búzios, bem como peças tipográficas; todos esses elementos dispostos em um campo de jogo cuja memória [dos objetos] colapsa, desmancha e é ressignificada. Portanto, o lançamento e colapso dessa memória [reificada] representada pelos objetos faz parte de uma cultura rompida, embaralhada, mesclada e apagada por um discurso hegemônico que o próprio vídeo evidência pelo tabuleiro [como forma de um jogo cultural].